sexta-feira, 3 de julho de 2009

Conflitos étnicos em Ruanda: Hutus x Tutsis






Os países



Ruanda: pequeno território localizado no Planalto Central Africano, com elevadas montanhas vulcânicas e clima tropical de altitude. Faz fronteira com a República Democrática do Congo (ex- Zaire). A população é composta por 90% de hutus e 9% de tutsis, com um total de 6,5 milhões em 1998.
Burundi: localizado ao sul de Ruanda, com uma área de apenas 27.834 km2 , e uma população total de 6,6 milhões de habitantes, composta por 85% de hutus e 14% de tutsis.




As etnias



Os tutsis eram predominantemente pastoreiros e apresentavam maior estatura. Os hutus, de pele mais escura e menor estatura, tinham tradição agrícola. A partir da colonização sob o domínio alemão, e posteriormente belga, esses dois povos tiveram sua organização modificada.
Os tutsis foram escolhidos para assumirem cargos da administração estatal, treinamento militar, acesso exclusivo à educação, uma vez que as escolas exigiam estatura mínima, visando impedir o ingresso dos hutus. Tinham estatura vigorosa; raça pura, que os alemães da época tanto prezavam. Descendentes, talvez, da Rainha de Sabá.
Os hutus, pelo contrário, eram agricultores e de aparência física mais fraca. Eles não caíram nas graças dos alemães. Quando chegaram à região, os belgas continuaram a mesma política de discriminação, e assim incentivavam a rivalidade entre essas duas tribos, rivalidade que continua até hoje e que já provocou genocídios – e mesmo agora está provocando assassinatos numerosos com armas brancas.




Os conflitos



O conflito entre tutsis e hutus é mais uma demonstração do efeito retardado da política colonial européia no continente africano. Até o início da colonização alemã na região, as duas etnias viviam em relativa harmonia, no território que hoje é ocupado por Ruanda e Burundi.
Em 1959, os ressentimentos acumulados pelos hutus no período colonial explodem. Nesta primeira rebelião, militares tutsis foram aprisionados e tiveram seus pés cortados a golpes de facão, com o objetivo de diminuir a diferença de estatura (e, simbolicamente, diminuir as diferenças sociais).
Em 1962, a Ruanda tornou-se independente e a minoria tutsi ficou a mercê dos hutus, sendo obrigado a migrar para Uganda, a fim de organizarem uma nova tomada de poder. Este conflito se intensificou a partir de abril de 1994, quando os presidentes de Ruanda e Burundi, de etnia hutu, foram mortos em um atentado que derrubou o avião onde viajavam juntos. Foi o estopim para o genocídio com mais de 1 milhão de mortos e mais de 2 milhões de refugiados.
Em julho de 1998, foi elaborado um acordo de cessar fogo, com o estabelecimento de um governo formado por representantes tutsis e hutus. Mas esse acordo pouco resultado tive. As rivalidades continuam.




Os tutsis e os hutus no território congolês



Para destituir Mobutu do poder, Kabila, pai do atual presidente congolês, contou com a colaboração dos ruandeses e dos ugandeses. Depois da vitória, os militares desses dois países não queriam mais sair da RD do Congo, disputando a posse da terra, uma vez que o território deles é extremamente pequeno e porque essas etnias afirmam serem suas essas terras congolesas. Principalmente as terras dos Grandes Lagos. Durante dias, eles lutaram na RD do Congo, principalmente na região norte e leste, matando milhares e milhares de congoleses. A intervenção da ONU estabeleceu uma paz frágil. Os tutsis de Ruanda continuaram apoiando um general congolês revolucionário, Nkunda, e os hutus continuaram atacando as populações da região do Kivu com as milicias interahamwe (paramilitares hutus).
Esses revolucionários criaram um clima de intranqüilidade e uma psicose de guerra no leste congolês. Tropas estrangeiras infernizavam a vida das populações. A Conferência dos bispos da RD do Congo fez um alerta às autoridades congolesas e internacionais, denunciando a presença de militares estrangeiros em território congolês, e condenando fortemente toda violência e proclamando, em alto e bom som, a soberania da nação congolesa. Isso em 2004.
Apesar de todo o clamor do povo e dos senhores bispos, as autoridades nacionais e estrangeiras pouco se importavam com a situação dramática do povo do leste congolês, vitima da violência, das incursões militares em suas cidades e aldeias.
Em 2007, os bispos novamente protestaram, chamando a atenção das autoridades para a triste situação no leste. Em dezembro de 2007, no Memorandum da Conferência Episcopal Nacional do Congo aos participantes da conferência sobre a paz, a segurança e o desenvolvimento no norte e no sul (Kivu), os bispos afirmaram: “O sucesso de uma tal conferência depende do espírito de diálogo na transparência e na verdade, da determinação e da sinceridade dos participantes. Nada se fará, se a conferência não abordar as questões de fundo e em todas as suas dimensões: humanitárias, territoriais, históricas, econômicas, políticas, étnicas, jurídicas”.




Depois da Conferência



Infelizmente, pouco resultado trouxe a conferência de Goma. A intranqüilidade continua na região. As milícias paramilitares continuam apavorando os habitantes do Kivu. Agora mesmo estão em guerra. E o governo não tem força nem moral para tomar uma atitude enérgica contra esses grupos, pois não tem um exército forte nem coragem de agir, já que está compromissado com os tutsis, que o ajudaram a derrubar Mobutu. Além disso, a penetração dos tutsis no território congolês, e mesmo no próprio governo do país é uma realidade. E eles são os mais interessados na posse dessas ricas terras do leste congolês.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Cáucaso



O Cáucaso é uma região da Europa oriental e da Ásia ocidental, entre o mar negro e o mar Cáspio, que inclui a cordilheira do mesmo nome e as planícies adjacentes. Aquela região marca uma das fronteiras entre a Europa e a Ásia, fazendo com que alguns de seus países sejam considerados transcontinentais, como a Turquia, cujos territórios dividem-se em uma porção geograficamente européia e outra asiática.O Cáucaso possui jazidas de metais não–ferrosos e reservas de petróleo (Azerbaijão e regiões de Maikop e de Grózni).




Historia
Explorado pelas navegadores
gregos de Mileto, no século VIII a.C., o litoral do mar Negro é repleto de várias colônias. No Cáucaso misturam-se influências persas, partas e romanas. Ponto de contato entre as civilizações bizantina e árabe durante a Idade Média, o Cáucaso caiu sob administração dos turcos seljúcidas no século XI, e, no século XIII, sofreu as invasões mongóis. Entre o século XI e o meio do século XIII, uma brilhante civilização prosperou nos reinos da Armênia e da Geórgia. Após a tomada de Constantinopla em 1453, a região ficou isolada do mundo cristão e passou ao controle otomano no século XVI. A penetração russa no Cáucaso começou na mesma época, mas a russificação tornou-se efetiva somente no final do século XVIII; após a anexação da Geórgia (1801), a guerra contra a Pérsia e o Império Otomano (18051829) permite aos russos a conquista da região de Erevan. A dura resistência das tribos das montanhas teve fim somente com a rendição, em 1859, do chefe muçulmano Chamyl. Os territórios caucasianos, onde haviam sido criadas em 1917 as repúblicas socialistas da Geórgia, da Armênia e do Azerbaijão, foram, de julho de 1942 a janeiro de 1943, o teatro de uma vasta ofensiva alemã, cujo objetivo era o controle dos campos petrolíferos de Baku. Do fim da Segunda Guerra Mundial ao desmantelamento da União Soviética (URSS), os países do Cáucaso seguiram a história da URSS.




Independência e surgimento dos conflitos
Após
1989, o desaparecimento da URSS permitiu a criação de três novos Estados (Armênia, Geórgia e Azerbaijão), enquanto que as seis repúblicas ciscaucasianas permaneceram no seio da Federa
ção Russa. As três novas repúblicas são confrontadas a graves dificuldades econômicas e são vítimas de múltiplos conflitos: a Armênia e o Azerbaijão disputam o controle do Karabak, região do Azerbaijão, reclamada e ocupada pela Armênia em total desrespeito aos tratados por ela assinados, enquanto que a Geórgia deve enfrentar o separatismo na Abcásia, assim como na Ossétia do Sul. Além disso, no território da Federação Russa, um conflito explodiu em dezembro de 1994 na Chechênia, onde as forças armadas russas tentam submeter pela força os nacionalistas chechenos do general Djokar Doudaiev, que recusam a adesão à Federação Russa e reclamam independência.
Os conflitos são de interesse global, uma vez que a região é um ponto estrátegico devido aos
oleodutos que atravessam o Cáucaso, ligando as reservas de petróleo e gás no Azerbaijão e Cazaquistão a Moscou e aos portos da Europa, que se tornaram assuntos estratégicos.
Analisando cada conflito separadamente




Armênia vs. Azerbaidjão: a disputa por Nagorno Karabakh
Desde o incio do
século XX tenta-se uma solução para o status politico de Nagorno Karabakh. Em 1921, a região é entregue à Armênia por um conselho regional do Cáucaso. Mas, logo após o acerto, as duas nações são incorporadas pela URSS e Nagorno Karabakh é cedido ao Azerbaijão como uma república autônoma. Em 1988, aproveitando à abertura política soviética, a Armênia passa a reivindicar o território, o que inicia uma guerra entre as duas repúblicas, que se intensifica-se com a saída do exército soviético de Nagorno Karabakh, após o fim da URSS (1991). O Azerbaijão bombardeia o enclave até 1992, quando a Armênia conquista Nagorno Karabakh, e uma extensa área ao redor, criando assim um "corredor" de ligação com a região (Corredor de Latchine). A continuidade dos combates provoca o colapso econômico dos dois países. Em maio de 1994, é assinado um cessar fogo.
As negociações bilaterais sobre o destino da região não avançam nos anos seguintes. O presidente armênio,
Robert Kocharian, e o azerbaijano, Heidar Aliev, reúnem-se em março de 2
001 na França e em maio nos EUA. É discutida a concessão ao enclave do status de república autônoma do Azerbaijão com Constituição e Exército próprio, e o direito a vetar leis azerbaijanas. A Armênia teria de retirar-se da área contigua, ocupada durante a guerra. Nada é decidido, porém, porque Kocharian e Aliev enfrentaram forte resistência interna em seus países.






Conflitos separatistas na Geórgia
Desde o fim da União Soviética, a Geórgia tem sido palco de conflitos separatistas, principalmente nas regiões da Ossétia do Sul e da Abkázia. À primeira vista, a situação entre essas regiões e a Geórgia poderia ser vista como um conflito intraestatal resultante dos princípios às vezes antagônicos da auto-determinação dos povos e da soberania estatal. No entanto, o apoio da Rússia às duas das regiões separatistas demonstra a grande importância geopolítica e estratégica da questão. Dada a complexidade da situação, uma abordagem sistêmica deve ser complementada com outros elementos, entre eles a animosidade entre as diversas etnias.




Breve história do conflito
A desintegração da União Soviética desencadeou a crise no Cáucaso. Em 1992, a população da Ossétia do Sul manifestou, por meio de um referendo, o desejo de separação em relação à Geórgia e integração à Federação Russa, para que pudesse se unir à Ossétia do Norte. O referendo não foi reconhecido pela Geórgia, que respondeu com uma invasão militar à província. O cessar fogo foi assinado, e uma série de protocolos adicionais criaram a Comissão de Controle Conjunta (Joint Control Comission – JCC), formada pela Geórgia, Rússia e Ossétias no Norte e do Sul, observada pela Organização para Segurança e Cooperação da Europa (OSCE), além da Força Conjunta de Peacekeeping, com unidades russas, ossetianas e georgianas. Desde então, o envolvimento da Rússia na região tem sido crescente, indo desde auxílio econômico até emissão de passaportes russos aos habitantes da Ossétia do Sul.O desenvolvimento da situação da Abkásia foi um pouco distinto. A princípio, a Abkásia propôs o arranjo de federação ou confederação em relação à Geórgia, proposta esta que foi ignorada pelo governo georgiano. As tentativas de obter maiores liberdades em relação ao governo da Geórgia não cessaram, até que, em 1992, tropas da Geórgia atacaram a Abkásia. Durante o processo de reconquista da região abkaz foi promovida uma verdadeira limpeza étnica em relação aos georgianos, de forma que os abkazes, até então minoria na região, passaram a ser maioria. Para a observação do cessar fogo, assinado em 1994, foram criadas uma força de Peacekeeping da Comunidade dos estados Independentes e a Missão de Observadores Militares das Nações Unidas na Geórgia, a UNOMIG.Embora diferentes, as situações se assemelham principalmente no que tange o envolvimento russo. Durante o período mais violento dos conflitos, no início da década de 90, a participação da Rússia foi velada, embora não fosse propriamente um segredo. Na Abkásia, que possui uma indústria turística bem desenvolvida e instituições democráticas desenvolvidas, a Rússia tem servido de apoio para a manutenção da separação, na prática, em relação à Geórgia. Na Ossétia do Sul, a intervenção Russa é mais direta, principalmente porque, para a região, a independência em relação à Geórgia significaria a integração à Rússia, por meio da unificação com a Ossétia do Norte.Com a abertura do precedente legal para o reconhecimento de regiões separatistas, após o caso do Kosovo, a Rússia tem reforçado a necessidade de reconhecimento da independência das duas regiões, inclusive estabelecendo laços jurídicos com a Abkásia e a Ossétia do Sul, o que causou protestos do governo de Tbilisi.






Em agosto de 2008 o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, e o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, assinaram um acordo pelo fim dos combates. O acordo prevê a renúncia ao uso da força por parte dos dois países; o fim definitivo das ações militares; o livre acesso de ajuda humanitária; e o retorno tanto de tropas da Rússia quanto da Geórgia às suas posições originais, entre outros pontos.



Em junho de 2009 a Rússia iniciou exercícios militares de larga escala envolvendo milhares de soldados em várias partes de sua região sul, levando a Geórgia a reagir furiosamente, ao afirmar que a operação vai violar seu território. Um general russo em alto posto de comando disse que os exercícios abrangerão as tropas estacionadas nas duas regiões separatistas da Geórgia, a Ossétia do Sul e a Abkházia, embora não tenha ficado clara a extensão da participação desse contingente.
Manobras semelhantes realizadas pela Rússia em agosto passado facilitaram o envio de tropas e tanques rapidamente para a Geórgia para repelir as tropas governamentais georgianas que tentavam retomar o controle da Ossétia do Sul.
A Geórgia se apressou a acusar a Rússia de realizar exercícios de guerra. A tensão, então, permanece.